Ele
me dá uma daquelas olhadas de quem sabe demais enquanto passa a mão
na barba. Não me diz nada, mas sei por experiência que esse gesto
significa que estou perdida. Não que seja ruim, mas vê que ele sabe
que não consigo fugir me deixa irritada. Como pude deixar isso
acontecer?
Aí
vem a pergunta: qual o problema com ele afinal? O problema, colega, é
que ele é perfeito demais para mim e isso me deixa doente. Porque
ele é encrenca, encrenca daquelas das boas. Que só de olhar você
sente lá dentro que tem que correr, sem nem olhar para trás. Porque
se chegar perto, ah, amiga, você tá perdida.
Já
tentei trocar por outro(s). Não responder as mensagens na hora em
que elas chegam. Me manter ocupada ou quem sabe não vê-lo mais.
Nada funciona. Na verdade é como se eu acendesse um sinal luminoso
que grita "Vai atrás dela, rapaz!", porque quando menos
espero, olho por cima do ombro e lá está ele de novo.
E
o pior de tudo é que o infeliz me faz falta. Porque não basta
ter time perfeito pra correr atrás, tem que ser bom
amigo e pensar exatamente igual a mim. E ainda adivinhar o que eu
quero e fazer do jeito perfeito. Ah, mas tinha que ser bonito também,
daqueles que um sorriso faz as mulheres se derreterem, saber ser fofo
na hora certa e bruto também. Como pode ser tão o que eu gosto, meu
Deus?
Mas
o melhor de tudo, espera, essa é a melhor parte, é que eu acho que
gosto dele. Sim, da encrenca. Aquele mesmo que foi me visitar porque
eu tava doente, o que pediu para eu tomar conta dele, o que me deseja
boa noite, tem o abraço mais gostoso do mundo e que adora me
arrastar para longe das pessoas a fim de me roubar um beijo. O rapaz
que até tenta sumir, mas sente saudade tanto quanto eu.
Então
ele me abraça. Puff. Tudo que eu podia pensar ou questionar vai
embora. Ele sorri e eu sorrio. E não tem mais nada que eu possa
fazer, além de sermos nós. Só mais uma vez, eu digo (minto) pra
mim. Só mais uma.
Thalyne Carneiro